quinta-feira, 1 de maio de 2008

Aéreas nacionais não querem liberação de preços para Europa e EUA

As companhias aéreas brasileiras são radicalmente contra a liberação dos preços das passagens e freqüências de vôos nas rotas para Europa e América do Norte, ao contrário da posição que tomaram frente à desregulamentação de tarifas que teve início recentemente na América do Sul. Segundo José Márcio Mollo, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), a liberdade tarifária ampliada a outras regiões seria extremamente danosa às empresas brasileiras, porque seus custos são maiores do que os custos das companhias aéreas européias e americanas, principalmente. Por causa disso, as estrangeiras teriam mais condições de competir e eliminar as brasileiras do mercado. " Nós temos o chamado custo Brasil: mais impostos, leasing, seguros e combustível mais caros e ainda obrigação de ter em estoque peças de manutenção no valor equivalente a 25% do preço de um avião " , disse Mollo, em entrevista ao Valor, durante o fórum de turismo Panrotas. Segundo ele, nos Estados Unidos, as empresas precisam ter apenas 2% do valor de um aeronave em peças estocadas. " Se houver também a liberdade de freqüências, será o fim. " A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda não colocou a liberdade tarifária ou de freqüências para Europa e Estados Unidos em discussão pública. Mas é uma política que poderia trazer benefícios aos passageiros e, segundo o Snea, já vem sendo bastante estudada pela agência.A interpretação de Mollo é compartilhada pelo vice-presidente de vendas da TAM, Wagner Ferreira, que também esteve presente ao evento. Tarcisio Gargioni, vice-presidente de marketing e serviços da Gol, preferiu não firmar posição, mas reafirmou que os custos das brasileiras são mais altos. " Para as companhias americanas, a América Latina costuma representar menos de 5% da receita " , diz Mollo. " Elas poderiam praticar preços baixíssimos sem grandes prejuízos, mas as brasileiras não. " Atualmente, pela legislação brasileira, o valor das passagens do Brasil para o exterior devem obedecer a um piso mínimo. A regra também valia para os vôos do país para a América do Sul, mas em fevereiro a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deu início à liberalização regional. A partir de setembro deste ano as empresas ficarão totalmente livres para praticar quaisquer preços. " Na América do Sul, as condições de concorrência são mais equilibradas " , disse Mollo. Em relação ao número de freqüências, há limitação estabelecida com todos os países por meio de acordos bilaterais. Mesmo na América do Sul, um eventual acordo de " céus abertos " ainda não está planejado. Para Luiz Henrique Teixeira, diretor da americana Delta Air Lines no Brasil, uma eventual liberdade tarifária seria ruim para todas as empresas - e pior para as brasileiras - porque reduziria a margem de lucro. As operações brasileiras estão entre as mais lucrativas da Delta no mundo todo. Uma significativa redução dos preços nas passagens, porém, aconteceria somente junto com a liberdade de freqüências. Enquanto a oferta de vôos em mercados movimentados estiver limitada pelos acordos bilaterais, a tendência é que os aviões continuem cheios e que as empresas não vejam necessidade em baixar tarifas para ganhar mercado.
Por Roberta Campassi do Valor Econômico

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